segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Governo quer os ricos a pagar a crise

Em 2012 foram os pobres e os funcionários públicos a pagar a crise, principalmente devido à subida do IVA e eliminação dos subsídios da função pública, em 2013 o governo quer que sejam os ricos e os que tem a sorte de ainda ter emprego a pagar a crise.

Será que os ricos e as centrais sindicais e patronais deixam?

Nunca os ricos foram tão maltratados por um governo em Portugal como vai acontecer em 2013, quer seja pelo aumento escandaloso do IMI (sim porque quem possui uma propriedadezeca já é considerado rico) quer seja pelo aumento repetido e somativo das taxas sobre os dividendos, juros e mais-valias, quer seja pela nova taxa agravada para propriedades acima de 1 milhão de euros (e qualquer apartamento bom em Lisboa vale mais de 1 milhão de euros), carros de alta cilindrada, barcos, aeronaves particulares, etc.

Mas deixemos lá os ricos que os poucos que ainda resistem acabarão por fugir do país (os verdadeiros ricos pois os falsos ricos não podem fugir e vão ter que pagar o IMI ou vender as suas casas) e concentremo-nos nos que ainda tem a sorte de ter emprego.

Esse bicho cada vez mais raro, que ainda tem a sorte de ter emprego, aparentemente vai ver o seu ordenado líquido reduzido em 7% por via da transferência de parte da TSU (mais de 5%) da entidade patronal para o trabalhador, bem como um aumento de cerca de 1% na mesma para garantir a sustentabilidade da Segurança Social.

Eu disse “aparentemente” e vou explicar porquê mas antes queria tecer as seguintes considerações:

- A Troika sempre quis a redução da TSU para as empresas.
- A Troika sempre quis a redução dos ordenados dos portugueses.
- O Governo recusou em 2012 pedir ainda mais dinheiro aos pobres para financiar a redução da TSU.
- A Troika sempre quis uma contração da economia para redireciona-la para os bens transacionáveis (a contração diminui as importações e estimula as exportações).
- O aumento do desemprego, contração económica e poupança das famílias foi superior ao esperado.
- A Europa está a dar sinais de contração ou desaceleração.
- O aumento do desemprego põe mais pressão sobre o governo para descer a TSU das empresas.
- A contração económica e poupanças das famílias superiores ao esperado põe menos pressão para o governo e a Troika tomarem novas medidas de austeridade sobre as famílias.

Dito isto vou passar a explicar porque eu disse “aparentemente” (para alguns, não para outros) e porque é que eu penso que o governo diz que a medida só vai aumentar a contração económica em pouco mais de 1%

A explicação também serve para perceber porque é que os patrões se uniram às centrais sindicais na luta contra esta mexida da TSU.

Explicação:

É que qualquer gestor sabe que é indispensável manter os seus trabalhadores motivados e a descida anunciada do ordenado líquido em mais de 7% (7% por via da TSU e mais não sei quanto por via do aumento do IRS que ainda está por definir) irá desmotivar os trabalhadores.

Então o que qualquer empresa que ainda esteja economicamente saudável vai fazer é aumentar os ordenados dos seus funcionários de forma a minimizar esta medida do governo e assim o dinheiro que o governo diz que vai reverter dos trabalhadores para as empresas, vai acabar por reverter para o Estado porque os empregadores irão aumentar os ordenados e consequentemente o estado irá arrecadar mais receita (não digo que globalmente a receita vai aumentar mas sim que em relação a este universo a receita vai aumentar)

Assim as empresas ficam com a fama de terem recebido o dinheiro dos trabalhadores mas quem fica com o proveito são os cofres do Estado.

As outras empresas que estão em graves dificuldades e não vão poder aumentar os trabalhadores é que sim ficam beneficiadas e pode ser que até consigam não abrir falência (algumas).

Assim o governo, apesar de não o ter explicado, mata 3 coelhos de uma só cajadada: diminui os salários da função pública nos referidos 7% (mais ainda devido ao IRS), salva algumas empresas da falência diminuindo o aumento do desemprego e a economia não contrai tanto como se possa pensar porque os empresários que podem pagar vão pagar a factura.

Não estou a dizer que os trabalhadores não irão pagar a crise em 2013, o que estou a dizer é que o pagamento será repartido pela função pública, trabalhadores, empresas e ricos ao contrário do que aconteceu em 2012 onde a crise foi paga essencialmente pelos funcionários públicos e consumidores onde se incluem os desempregados e pobres.


Será que os ricos e as centrais sindicais e patronais deixam? e porquê o PS, PSD e CDS estão unidos nesta matéria contra o governo?

Ainda bem que eu sou português capaz de pensar por mim e não partidário. Não se deixem manipular pelos interesses instalados!


Por: Wilson Ferreira Antunes.
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